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Júlio Resende
You Taste Like A Song
CD Clean Feed 2011

 

Não é fácil a vida dos pianistas de Jazz: afinal todos os anos saem da universidade novos pianistas e quase todos eles com uma predilecção pela fórmula do trio de piano (piano-baixo-bateria). O fenómeno está longe de ser nacional, como temos notado por diversas vezes.
Ainda assim, e apesar da sua juventude, Júlio Resende é já um nome consagrado na nossa praça. Com três discos editados e contratos para tocar por todo o país (nos mais diversos ambientes), ele é uma referência entre os pianistas nacionais. As razões serão em primeiro lugar uma excelente técnica e polivalência q.b..
You Taste Like A Song cai dentro da categoria dos clássicos trios de piano (os dois discos anteriores compreendiam também sopros na sua formação), para o que conta com a colaboração do contrabaixista norueguês Ole Morten Vagan e um dos nossos mais engenhosos bateristas, Joel Silva, substituídos em dois temas diferentes por Bruno Pedroso e João Custódio, com quem Resende também ocasionalmente vem tocando.
Creio que é visível em You Taste Like A Song a procura do "toque", da singularidade que faz a diferença e identifica o artista, e que se revela na proverbial melancolia lusitana de “Silêncio – For The Fado” ou “A Dona do Gato Sássi”, ou, pelo contrário, nos momentos mais Esbjorn Svensson de “Hip-Hop Du-Bop” ou “Improvisação (call it whatever)”.
É um disco de originais, com três excepções, para um tema – “Airbag” - dos Radiohead (a banda de pop mais tocada por músicos de Jazz desde Brad Mehldau), ainda o clássico de Thelonious Monk, “Straight, No Chaser” e "Who Did You Think I Was" de John Mayer. Os originais denotam o eclectismo e cultura do pianista, a par de um gosto por linhas e arquitecturas claras e uma interpretação fogosa e entusiasmada que são a meu ver as suas marcas mais relevantes.

Júlio Resende (p)
Ole Morten Vagan (ctb)
Joel Silva (bat)
+
João Custódio (ctb)
Bruno Pedroso (bat)

(Este texto foi publicado em Jazz 6/4 #14)